De Jorge Araújo
Ex treinador profissional de basquetebol
Preocupou-me desde muito cedo ensinar e treinar pessoas e equipas com o objetivo de, ao trabalharem coletivamente, fazerem emergir um ambiente de trabalho positivo e eficaz. Objetivo que se revelou sempre particularmente difícil pois existem nas relações entre essas pessoas zonas anónimas do comportamento.
Em cada equipa que treinei, “aconteceu” sempre um plano comportamental anónimo e inconsciente que não só se iniciava de modo intersubjetivo, como também continuava a influenciar essas relações mesmo quando se tornavam conscientes. O que tornava relevante para o treino de pessoas e equipas de alto rendimento descobrir que, sob os seus comportamentos, existiam sempre relações e influências anónimas, intersubjetivas, inter corporais e relacionais, que se fundavam no próprio modo como cada uma dessas pessoas se relacionava entre si e com o meio envolvente.
No decurso de todo este caminhar no sentido da concretização do treinador que viria a ser, algo de comum e muito complexo me foi “acontecendo”. Vivi a experiência de “estar em equipa” e dentro das minhas possibilidades contribuir para que cada uma dessas equipas fossem o mais inteligentes possível. Melhor dizendo que conseguissem, como um todo, ser inteligentes, para além de mim, o designado treinador. Como mais tarde viria a perceber e a aprender, afinal, “quem joga são os jogadores, não os treinadores”. O que significa que, tal como aos jogadores lhes devemos proporcionar o treino que os torne individualmente cada vez mais inteligentes, também as equipas precisam treinar coletivamente as suas inteligências. Sendo uma equipa, um conjunto de pessoas que interagem entre si ao serviço de objetivos comuns, ao fazê-lo, ao treinarem diariamente enquanto equipa, tornar-se-ão cada vez mais inteligentes a nível físico, mental, emocional social e espiritual. Com uma particularidade. Adquirem essa inteligência globalmente, não podendo nem devendo o treinador conceber esse seu trabalho “ás parcelas”, como se de “prateleiras” se tratasse. Uma equipa é e será sempre num futuro próximo um todo, onde tudo influencia e é influenciado. Uma equipa inteligente, tal como uma pessoa inteligente, é um todo cujas experiências anteriores contribuíram globalmente para a aquisição dessa forma inteligente de estar e ser. Melhor dizendo, uma equipa inteligente, só o é porque treinou “como se joga” sabendo nesse seu percurso preparatório que “quem não melhora, piora”.