Opinião Pessoal ou Estudo do Problema

De Jorge Araújo

Ex-treinador profissional de basquetebol

 

Vivemos na atualidade nacional o culto da “opinião”. Proliferam comentadores, assistimos ao vivo nas nossas televisões a um continuado debate, lemos diariamente em jornais e revistas “colunas de opinião”, as redes sociais “esmagam-nos” com a sua impunidade quanto ao que cada um pensa sobre os mais variados assuntos.

Perante tal vulgarização deste tipo de debate público, lembrei-me das palavras sábias que me dirigiu num determinado dia o Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Luis Umbelino.

Para o filósofo a “opinião pessoal” não tem grande valor. É mesmo a ultrapassagem da “opinião pessoal” que deve ser entendida como o começo do conhecimento. Sozinhos, nada sabemos. A “opinião pessoal” é sempre limitada, relativística, muitas vezes apressada. O desafio de pensar é pensar com outros, com aqueles que já pensaram os mesmos problemas que nós.”Só quando afirmamos: “ainda não tinha pensado nisto”, estamos em condições de sabermos que nos abrimos à diferença que funda o conhecimento autêntico. Mais importante do que a opinião pessoal será, portanto, formar a densidade do pensamento pois só esta é capaz de começar por perceber o que realmente “chama a pensar”. Se não percebemos isto hoje é porque a nossa sociedade nos quer convencer, por uma espécie de tirania da igualdade, que todos somos iguais, que a opinião de todos é igual, que todas as opiniões são válidas, etc. A esta ideia bizarra junta-se a velocidade e a emoção: todos querem “uma reação”. Infelizmente tudo isto é contrário ao pensamento verdadeiro.” “A profundidade da reflexão não está na opinião: está no conflito de interpretações.” “Conclusão, não é a opinião que devemos procurar primeiro, mas sim o estudo do problema, a descrição dos respetivos contornos e dimensões. Depois, escolhemos uma perspetiva ou ponto de vista. Estudamos esse ponto de vista, analisando os autores que melhor o desenvolveram e encontrando nesse diálogo o nosso lugar. Finalmente, estamos prontos para entrar no conflito de interpretações com outros autores e dimensões do problema.”

Uma verdadeira lição de um grande professor que espero sinceramente possa servir no próximo futuro de motivo de reflexão para todos aqueles que por vezes do modo mais ligeiro e superficial nos dizem diariamente que “acham que…”.

“Achismo” este que, na maioria das vezes, confunde mais do que esclarece.

Por favor, não esqueçam a mensagem do Prof. Luis Umbelino:

“Não é a opinião que devemos procurar primeiro, mas sim o estudo do problema.”

Últimos destaques