QUEM JOGA SÃO OS JOGADORES, NÃO OS TREINADORES
Jorge Araújo
Presidente da Team Work Consultores
Os comportamentos podem (e devem!) ser direcionados, trabalhados, transformados em determinadas situações (treinos) desde que estas não se descolem ou percam de vista a realidade (o jogo, a competição). Ao fazer ressaltar quanto o exemplo de quem se respeita contribui para a ação, destaca a dimensão intersubjetiva do comportamento. Confirma também a importância para um treinador de estabelecer objetivos que possam ser assumidos como comuns e que esses objetivos se tornem realmente mobilizadores da ação quando são assumidos individualmente. Comprova igualmente que a motivação e partilha de valores positivos, operando emocionalmente, são um elemento decisivo do treino comportamental. Identifica ainda uma verdadeira dimensão emocional de partilha e incentivo.
Que fique claro!
Quando qualquer agente desportivo evidencia determinados comportamentos, nunca o faz de forma mecânica, mas sempre com um determinado propósito e significado. Razão porque importa desde logo reconhecer que a eficácia da influência dos treinadores dependa da capacidade que possuem, (ou não!), para mobilizar a motivação de equipas, jogadores, dirigentes, adeptos, etc. E que as questões comportamentais se sobrepõem por vezes na sua respetiva importância à técnica e à tática.
Wayne Smith, treinador australiano de rugby, afirmou há uns anos que “todos os jogadores são capazes de enfrentar os maiores desafios, desde que esses sejam os seus desafios.” Nos tempos atuais, quer a ciência, como a filosofia ilustram que tal afirmação é igualmente verdade em relação a todos nós, seres humanos. Temos corpos vividos, fenomenais, expressivos e intencionais, profundamente relacionais e que se enredam com o meio ambiente em que se inserem. Coexistimos e convivemos com tudo o que nos rodeia, sempre a começar e a recomeçar, não só enquanto parte interessada e intencional, como também parte marcadamente influenciada. Corpos para quem sentir é sintonizar-se e coexistir, apoiados numa complexa e pré-reflexiva vida percetiva que, unificando sensibilidade e motricidade, congregam o passado, o futuro, o meio ambiente e respetiva cultura, a situação ideológica e moral, etc. Onde o fenomenal e o transcendente dialogam e é neles que os treinadores podem e devem encontrar o sentido e a direção de vida pretendida.
Melhor dizendo que, “quem joga são os jogadores e não os treinadores”.
O que impõe a todos os treinadores que não esqueçam a circularidade fundamental que é a vida dos seus jogadores, baseada na relação continuada com os que os rodeiam, recebendo influências de todo o tipo. Nomeadamente a influência do treinador de quem concluem a cada momento se é, ou não, merecedor da sua confiança. O que em linguagem comportamental significa se mente com frequência, se é coerente face às regras que estipula, se revela a competência técnica e comportamental necessária e, muito particularmente, se manifesta preocupação constante com aqueles que lidera.
No fundo, se serve, mais do que se serve…