Muito menos a soma de um conjunto de órgãos que simplesmente se justapõem. Somos (sim!) um corpo “vivido” e expressivo que “habita” o meio ambiente e manifesta de forma continuada a sua “intencionalidade corporal”.
Razão mais do que suficiente para nos fazer assumir que, corpo “vivido”, perceção e motricidade, devem ser entendidas como um todo; onde o sistema sensorial e o sistema motor, tudo o que é visual, vestibular, propriocetivo e cinestésico funcionam globalmente; uma globalidade em interação e complementaridade constantes, que nos permite um comportamento que não é mais do que um modo de sintonização com tudo o que nos rodeia. Um comportamento expressivo, corporal, regulado inconscientemente e sobre o qual se estrutura uma corporeidade atual em que assentam as decisões fundamentais do nosso quotidiano; também dependente de experiências anteriores sedimentadas, muito para além da simples destreza mental, técnica, morfológica ou fisiológica.
Conclusão, temos um corpo vivido com uma dimensão anónima e inconsciente, sujeito a continuadas experiências intersubjetivas e intercorporais e constantes partilhas de experiências e afetividades; e através de uma corporeidade dinâmica e complexa capaz de incorporar todo o tipo de experiências entretanto decorrentes, criamos os designados hábitos. Habituação que não é mais do que uma forma de familiarização, um saber anónimo, vulgarmente designado como “hábitos adquiridos” por via de uma incorporação e anexação de tudo o que nos rodeia.
Muito importante, diria mesmo decisivo assumir que o nosso corpo vivido e experiencial não é assim uma mera entidade biológica “obediente” a um cérebro e a um sistema nervoso central em resposta aos designados “estímulos ambientais”. Muito menos a soma de um conjunto de órgãos que simplesmente se justapõem. Somos sim um corpo vivido e expressivo que “habita” o meio ambiente e manifesta de forma continuada o seu propósito de vida.